quarta-feira, 3 de março de 2010

Simplesmente não julgar

Tenho tido algumas experiências ao longo destes meses em que fiquei sem escrever aqui, mas uma das mais interessantes foi prestar mais atenção ao não julgamento pessoal e a ninguém quer que seja.
Difícil, quase impossível, devo confessar.

A prática de não julgar tem estado presente em várias doutrinas, filosofias, estilos de vida que tenho tentado aprender ao menos os princípios na minha busca de compreensão melhor do todo e de mim mesma, principalmente.

Ano passado fiz o curso de Reiki, e 2 de seus princípios são:

SOMENTE POR ESTE MOMENTO
NÃO TE JULGUES

SOMENTE POR ESTE MOMENTO
NÃO JULGUES O OUTRO

Na prática espírita , podemos ter como exemplo a mensagem de nosso irmão André Luiz:

"Amigo,
Examina o trabalho que desempenhas.

Analisa a própria conduta.
Observa os atos que te definem.
Vigia as palavras que proferes.
Aprimora os pensamentos que emites.
Pondera as responsabilidades que recebeste.
Aperfeiçoa os próprios sentimentos.

Relaciona as faltas em que, porventura, incorreste.
Arrola os pontos fracos da própria personalidade.

Inventaria os débitos em que te inseriste.

Sê o investigador de ti mesmo, o defensor do próprio coração, o guarda de tua mente.

Mas, se não deténs contigo a função do juiz, chamado à cura das chagas sociais, não julgues o irmão do caminho, porque não existem dois problemas, absolutamente iguais, e cada espírito possui um campo de manifestações particulares.

Cada criatura tem o seu drama, a sua aflição, a sua dificuldade e a sua dor.

Antes de julgar, busca entender o próximo e compadece-te, para que a tua palavra seja uma luz de fraternidade no incentivo do bem.

E, acima de tudo, lembra-te de que amanhã, outros olhos pousarão sobre ti, assim como agora a tua visão se demora sobre os outros.

Então, serás julgado pelos teus julgamentos e medido, segundo as medidas que aplicas aos que te seguem.

ANDRÉ LUIZ

(De “Comandos do Amor”, de Francisco Cândido Xavier)

 E como último exemplo que vivenciei neste ano, foi participar de uma palestra de iniciação à filosofia Zen Budista e a prática meditativa do Zazen.

"A palavra zen hoje em dia se tornou um termo popular, muito além de seu significado original. O zen é, em princípio, uma linhagem do budismo, e a palavra em si tem origem no sânscrito Dhyana, que significava meditar sobre o verdadeiro aspecto das coisas e discerni-las, mantendo, para isso, a máxima tranqüilidade de espírito.
O zen não é um estado, e sim a prática dos ensinamentos e um caminho a ser seguido. Apesar de ser uma linha do budismo, por todo o mundo existem muitos praticantes de zazen (meditação sentada zen) e que não são necessariamente budistas. Em verdade, para se compreender o zen, é necessário pura e simplesmente experimentá-lo e colocá-lo em prática no nosso dia-a-dia. O modo de vida almejado através do zen tem como princípio conscientizar-nos de que:


a) nenhum ser existe por si só;
b) não se consegue viver totalmente alheio ao próximo;
c) devemos gratidão a nossos pais, mestres, amigos, a tudo e a todos que nos rodeiam, assim como à natureza, à nossa vestimenta, ao nosso alimento e a nossa moradia, por nos proporcionarem suporte e encorajamento para vivermos em harmonia.


O corre-corre do nosso cotidiano muitas vezes não nos permite enxergar soluções para aquilo que buscamos, no entanto, quando estamos serenos e tranqüilos, conseguimos discernir de forma correta e enxergar por ângulos que em estado de estresse, nervosismo ou simples correria não nos seria possível. Nosso pensamento é como uma poça de água que, quando pisada, sua água se turva e nada enxergamos, senão imagens distorcidas. No entanto, se esperarmos a água se acalmar e a terra baixar, conseguimos enxergar claramente o nosso próprio reflexo... " (fonte: http://www.nippobrasil.com.br/2.budismo/289.shtml)




Pensamentos que surgem no Zazen

Sempre que praticarmos meditação vamos perceber pensamentos a cruzarem a nossa mente. Isto é normal e inevitável. A técnica para lidar com eles é simplesmente apenas observá-los, deixá-los passar e depois, voltar para a sua respiração. Não fique tentado a se agarrar a eles, pois outros surgirão fazendo com que você se afaste do seu objectivo, achando que poderia ter dedicado o seu tempo a outra coisa. Da mesma forma não procure imprimir os pensamentos, o que, de qualquer maneira, é quase impossível. Observe-os sem julgamentos e deixe-os passar como nuvens no céu.

O mestre Dogen disse "... aqui não existe absolutamente a questão de ser inteligente ou burro, nem diferença entre o perspicaz e o estúpido. Se você se esforça com um único propósito (no zazen ), isto é praticar o Caminho. Prática e realização não deixam nenhum traço de impureza, e a pessoa que avança no Caminho é uma pessoa normal."


Atitude Mental
- Não reter nem se apegar nada.
- deixar passar os pensamentos.
- Não pensar nem no passado nem no futuro.
- Não elaborar nada no presente.
- Não evitar pensar.
- Não julgar.
- Não intervir.
- Não esperar nada.
- Pensar com a postura.

Depois de ter contextualizado tudo isso, digo que tenho tentado compreender sempre um pouco mais que nossas experiências, vivências, sofrimentos, percepção limitada que temos da vida, pré-conceitos, "verdades absolutas" , enfim, nossa visão de mundo, não pode ser utilizada para julgarmos nenhuma atitude alheia.
Quem somos nós para sabermos o que passar dentro de outra pessoa, se nem ao menos dedicamos um tempo, pequeno que seja, para tentarmos perceber a nós mesmos?

Quantas vezes atiramos todas as pedras possíveis em nossos pais , amigos, filhos, companheiros, colegas de trabalho, pessoas desconhecidas na rua,  sentimos raiva, ódio, inveja, medo, etc,  tirando nossas próprias conclusões sobre o que é o "certo" e o "errado, o "bem" e o "mau" ?

Alguém sabe se o que pode ser  certo para mim pode ser muito errado para outra pessoa? Da mesma maneira, posso achar uma atitude de alguém totalmente contra os "meus princípios" e julgá-la sob a minha ótica, sem compreender o porquê a pessoa tomou tal atitude, o que ela estava sentindo e quais as suas experiências, vivências e percepções que ela tem da vida. Isto é certo?

Tentar compreender o que move o outro, em vez de julgá-lo, pode evitar sentimentos que nos tiram a paz, como raiva e ansiedade.

Tentar compreender a nós mesmos nos desvinculando de nossos sentimentos, criando um espaço vazio para que possamos praticar o silêncio e nos colocarmos em contato com emoções e sentimentos que todos nós temos é uma prática que pode nos ajudar a ficar no controle da situação e apenas observar. Sem julgamentos e sem procurar explicações.
Se estamos magoados com alguém, por exemplo, devemos apenas sentir: fiquei magoado com isso. E ponto. Devemos portanto evitar todas as palavras e emoções que vem junto do tipo: comigo sempre é assim, se eu tivesse feito diferente, eu sou culpada por ter falado aquilo, ela não gosta de mim, falou de propósito, etc. Evitando essas palavras que soam tão ruim para nós mesmos, percebemos que o problema não está no outro, mas no poder das palavras.

Para finalizar, deixo uma parte de um texto muito legal de Alex Possato,

"...E para lidar com estas emoções que, repito, todos temos, é necessário não julgar, principalmente a si mesmo. A arte de não julgar passa, sempre, pela observação de si, dos pensamentos e emoções. E ainda não inventaram nada melhor, mais barato e prático do que a meditação, para isso. Ao simplesmente sentar-se, consigo mesmo, durante meia hora ou uma hora, você pode se confrontar com pensamentos e emoções suas que, de outra maneira, passam batido durante dias, meses, anos… Você vê a sua raiva, a sua impaciência, a sua ansiedade… e aos poucos, começa a perceber que não existe só isso… Começa a ver coisas boas, ter boas sensações… e também perceberá que você não é isso. Ao simplesmente estar consigo mesmo, você vê que é muito mais que certo e errado, sensações terríveis e o êxtase, dor e prazer… Percebe que seus pensamentos, tanto os bons, como os ruins, são simplesmente… pensamentos. Suas emoções, tanto as dolorosas, como as extáticas, são somente… emoções. Você pode ser somente você, e observar que isto é muito bom. Sem querer agradar a ninguém, nem com a necessidade de fazer algo para ser melhor. Melhor para quem? Nada disso é necessário. Você, sentado consigo mesmo, sente que tudo está em seu devido lugar. Após esta percepção, a forma de agir perante o mundo, a forma de ver os fatos e as pessoas, muda totalmente."

Pensemos nisso. Abraços a todos.